Crónicas



Pendurei à porta de casa um pequeno um quadro com a inscrição

« Home is where the heart is».

E lá ficou dez anos.

Coloquei-o quando vim para Portugal em 2014.

Hoje, a plaquinha encontra-se noutra casa.

Será a última morada?

Não sei.

Interessa onde está?

Não.

Interessa saber que se encontra presente no espaço que considero ser o meu lar enquanto,

ou quando, lá estiver a morar.


As fotografias desta crónica, a de apresentação da página e a do artigo, refletem a imagem que tenho de lar.

Cada uma das personagens, por mais insólitas que sejam, evocam-me ternura pelo laço que possuem em relação ao espaço que lhes pertence.

O nosso lar existe onde vivemos.

Devemos criar laços e inventar artifícios para que a casa reflita a nossa personalidade, de uma ou outra forma, e que toda a narrativa do quotidiano se desenhe de forma a que quando entramos nela a paz reine.


Tenho visto vídeos de cidadãos a gritar a célebre frase «Vai para a tua terra!».

O grito ecoa como uma faca: fere e mata.

O grito ou o dito em surdina é novo?

Não.

O grito é característico de um individuo de um país específico?

Também não.

Todos os que se transmudaram já ouviram a agressão.

Mas alguns que sempre viveram num mesmo país, vila ou cidade, também já passaram pelo mesmo.

Então, o que leva estas personagens oblíquas a gritar?

O que é que estas personagens obtusas sentem quando gritam?

O mesmo que nós: o sentimento de pertença.


O sentimento de pertença para alguns é negativo, matador, castrador e preconceituoso.

Em contrapartida, para outras pessoas o sentimento é libertador e permite criar raízes, como uma planta à qual foi retirada uma haste pequena e frágil. E a haste pode ser transplantada numa planta de outra origem e

bem cuidada vinga, germina e dá vida a um jardim imenso.


©gizeladebrito, Pt-15/02/2024



Créditos da fotografia: GIzela de Brito -Hbo 2023

«A maior tristeza não é abandonar o lugar no qual sempre fomos felizes.

A maior tristeza é achar que não vamos ser felizes noutro lugar.»

©Gizela de Brito, PT-15/02/2024



J'ai accroché un petit tableau sur la porte de ma maison avec l'inscription

« Home is where the heart is».

Et il y est resté dix ans. Je l'ai mis lors de mon arrivé en Portugal en 2014.

Aujourd'hui, la petite plaque se trouve dans une autre maison.

Sera-ce la dernière adresse ?

Je ne le sais pas.

Est-ce important oú elle se trouve?

Non!


Il est intéressant de savoir que

je suis présente dans l'espace que je considère comme «chez-moi».

Les photos de cette chronique , celle de la présentation de la page et de l'article,

reflètent l'image que j'ai de «chez-moi».

Chacun de ces personnages, aussi insolites soient-ils, évoque en moi de la tendresse,

étant donné le lien qui'ils entretiennent par rapport à l'espace qui leur appartient.


Notre maison existe là, oú nous vivons.

Il faut il créer des liens et reinventer des astuces pour que

la maison reflète notre personnalité, d'une manière ou d'une autre, et que

tout le récit quotidien soit conçu de telle sorte que lorsqu'on y entre la paix reigne.


J'ai vu des vidéos de citoyens crier la célèbre phrase «Rentrez chez-vous!».

Le cri réssonne comme un couteau: il fait mal et il tue.


Le cri ou le dicton assourdis, sont-ils nouveaux?

Non!

Le cri, est-il caractéristique d'un individu d'un pays spécifique?

Ni l'un, ni l'autre.


Tous ceux qui ont migré ou changé de ville/pays ont déjà entendu cette agression verbale.

Même ceux qui ont toujours vécu dans la même région, le même village ou la même ville,

ont égalemnet vécu cela.


Alors, qu'est-ce qui faut crier ces personnages «obliques»?

Que ressentent-ils, ces personnages obtus, lorsqu'ils crient?

La même chose que nous: le sentiment d'appartennance.


Le sentiment d'appartennance pour certains est

négatif, meurtrier, castrant, et porteur de préjugés.

En revanche, pour d'autres personnes le sentiment

est libérateur et permet de s'enraciner,

comme une plante dont on aurait retiré une petite tige fragile.

Et la tige peut être transplantée dans une autre plante d'autre origine et

lorsqu'elle est bien entretenue,

elle prospère,

croît et donne lieu à un immense jardin.


©gizeladebrito, Pt-15/02/2024 (texte original en portugais)

Traduction en langue française: ©️

Luísa Fresta, écrivaine et poetèsse.





A crónica dos tremores de terra,

de mãos e de outras coisas inevitáveis.



Há 55 anos, Lisboa conheceu o maior sismo da sua história.

Nunca houve outro semelhante ao de 1775.

Portugal não consegue vivenciar terramotos, tremores de terra ou abalos de pequena ou grande intensidade sem revisitar a catástrofe sísmica do séc. XVIII.


Hoje, 26 de agosto de 2024, às 05h11m, enquanto o sol ansiava o encontro com a lua, a terra tremeu.

Ruídos, mais ou menos intensos, sacudidelas, abanões e tremidas propagaram-se por Lisboa e arredores.


Eu tinha, somente, cerca de mais uma hora de sono e isto num total previsto de quatro horas.


O meu sono era REM, mas despertei.

Os primeiros segundos não foram suficientes para processar a possibilidade de ser um terramoto.

Passou-me pela cabeça estar a sair do torpor de um sonho/pesadelo. Sentia a vibração intensa, os sons fortes, e inidentificáveis: o que justifica a magnitude de 5.3 na escala de Ritcher e não ter existido um tão forte em 50 anos.

Ainda pensei que o meu quarto pudesse estar a ser invadido por alguém que o estaria a bagunçar. Como entenderia eu tal confusão?

Permaneci quieta, na cama.


Senti, ainda, pequenas vibrações, cães a ladrar, ruídos vindos de fora... vozes altas?

Nada aguçou a vontade de me levantar e saber o que se estava a passar.


«Mais logo, falo com alguém e pergunto se sentiu o mesmo que eu.»


Não houve consultas à internet, mensagens no WhatsApp, telefonemas...não houve nada.

Cerca de uma hora depois, voltei a acordar. Soube do sucedido.


Preocupei-me ?

Sei lá.


Já me tremem as mãos, piscam-se-me os olhos e espasmam-se-me os músculos. Os sentimentos sísmicos, por vezes, não me deixam, sequer, dormir as quatro horas que tentei dormir hoje.

Tenho dificuldade de controlar os tremores essenciais que me tomam as mãos e me impedem de levar o garfo à boca ou o copo.


O que é que significa para mim um tremor de terra, se tremores e temores me assolam.

Ainda não consegui avaliar (perante o contexto ao meu redor).


Ainda não me acostumei aos meus, embora já existam há anos.


Essoutro é inevitável. Virá e eu estarei ou não por perto.

Vivenciarei ou não.

Nada nem ninguém travará a sua vinda.




©gizeladebrito, Pt-26/08/2024 (texto original en português)






Gizela de Brito

Gosto de escrever, fotografar, desenhar, pintar e poemar.

Tenho paixão pela leitura.

Amo a natureza.

Adoro viver.

SOBRE MIM

Gizela de Brito

A Sussurradora d'Estórias

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